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Em 18/11/2015

ASMP fala sobre o Novembro Azul

Entrevista com o especialista em Urologia Dr. Carlos Alberto Paes Silveira
Carlos Alberto Paes Silveira é formado em Medicina e Cirurgião pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).Especialização em Urologia e Uro-Oncologia no Hospital São Rafael – Fundação Monte Tabor;Pós-graduação em Urologia pela Fundação PUIGVERT - Barcelona/Espanha e no Hospital de Clínicas na USP/SP em Cirurgia Minimamente Invasiva e Vídeo Laparoscopia Urológica.Membro Titular da Sociedade Brasileira  de Urologia.
 
Durante o “ Novembro Azul”, que incentiva a prevenção do câncer de Próstata que atinge um a cada seis  homens no Brasil e no Mundo e é o  segundo câncer que mais mata o homem, a Associação Sergipana do Ministério Público(ASMP) conversou com o médico especialista em Urologia Dr. Carlos Alberto Paes Silveira sobre a importância do homem fazer exames de prevenção e sobre os mitos e verdades que cercam o tema.
 
1.  Como o movimento batizado de “Novembro Azul” ajuda a divulgar a importância da prevenção do câncer para o homem?
 
O “Novembro Azul” é um movimento internacional que surgiu na Austrália em 2004 e alcançando  grande notoriedade mundial. No Brasil começamos a ter o Novembro Azul em 2012, mas antes disso a Sociedade Brasileira de Urologia fazia desde 2005 campanhas de conscientização e tínhamos uma comemoração no “Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata” que é realizado no dia 17 de novembro. Com movimentos dessa natureza, começamos a ter uma maior conscientização da população masculina sobre a importância da realização de exames periódicos. Os números são expressivos.  Para se ter ideia, o câncer de próstata, excluindo o câncer de pele  é o mais comum no homem e o segundo que mais mata o homem.Quando comparo o câncer de próstata com o de mama, mais comum nas mulheres:  próstata acomete 1 em cada 6 homens enquanto o de mama  atinge 1  a cada 8 mulheres.
No entanto uma maior conscientização da população em relação a isso é relativamente recente e em função de ações como esta.Até 2013 não existia no Ministério da Saúde nenhum departamento voltado para a saúde do homem.  Através dessas campanhas da Sociedade Brasileira de Urologia e das campanhas internacionais é que o Governo começou a ser chamado atenção de que há necessidade de uma atenção maior voltada para o homem.
 
O Novembro Azul não é apenas sobre o câncer de próstata, e sim um mês voltado para a Saúde do Homem em geral. Discutimos também as doenças benignas que acometem o homem, em relação a próstata e distúrbios da micção, questões sobre seu desempenho sexual, distúrbios hormonais decorrentes a idade, enfim, Saúde do Homem como um todo.
 
 
2.  Qual o principal desafio quando se trata de saúde do homem?  O preconceito que  existe sobre o exame de próstata atrapalha?
 
A avaliação da próstata não se resume ao exame de toque. A avaliação deve ser feita com um especialista qualificado e deve ser periódica e  regular.  Situação em que o exame de toque prostático ao contrário do que se imagina , é apenas mais um exame dentro de um contexto. Não é o exame principal e único embora importante. A avaliação é bem mais ampla que isso. E infelizmente o receio e preconceito do exame de toque acaba afugentando o homem. Em muitos casos quando o homem já vem sendo acompanhado e percebemos que está tudo bem com os exames iniciais e uma Curva do PSA estável ao longo do tempo,  podemos, usando de bom senso momentaneamente abrir mão do exame de toque.  Nenhum urologista obrigará o seu paciente a passar pelo exame de toque caso não o aceite. Ele pode  e irá recomendar sempre que necessário ou mesmo dispensar se os dados forem seguros e favoráveis àquele momento.
 
3. No caso da próstata, qual a idade para o início da prevenção?
 
Esse momento vai depender do histórico do paciente. Se ele tiver algum caso na família, deve começar a prevenção aos 40 anos. Caso não tenha nenhum familiar com o histórico pode começar aos 45 anos.
Existe um estudo que mostra que quanto maior a idade, maior o risco de incidência do câncer de próstata.  Nem todos os casos do câncer de próstata evolui para a doença clínica, que pode matar o paciente.A Agencia Nacional Americana de Saude  nos últimos anos tem tentando mudar essa recomendação de 45 anos para 50 acredito que por questões econômicas. Mas prefiro manter a minha recomendação de 45 anos.
 
 
 
 
4.  O câncer de próstata acontece por fatores genéticos? Ou existem fatores externos?
 
Assim como na mulher, o câncer de mama está vinculado a genética e aos hormônios femininos, no câncer de próstata está fortemente vinculado a genética masculina e seus hormônios.  Um familiar com Neoplasia de próstata duplica o risco; se tenho 2 familiares este risco multiplica por 4 e para 3 familiares eleva-se para 10x o risco.Fora isso, outros fatores são até o momento especulativos.  Fora isso? Só o fato de ser homem e está entrando na meia idade já deverá ter seu Urologista de confiança e começar a fazer exames periódicos.
 
 
 
5.  Quais os avanços no diagnóstico e tratamento do câncer de próstata?
 
Costumo dizer que o PSA revolucionou a história e evolução da neoplasia da próstata.Para mim é o melhor marcador tumoral que existe na atualidade, embora não seja perfeito. Mesmo  não sendo 100%,  se for avaliado com critérios e bom senso, mudou a história do câncer de próstata.  Se bem avaliado pode trazer a suspeita desse tipo de câncer  em até 6 anos antes do exame de toque apresentar alguma alteração.  Mas esta analise obrigatoriamente deve ser acompanhada em curva de progresso do PSA sob critérios e, por um Urologista qualificado.
 
6. Como o preconceito sobre o câncer de próstata pode prejudicar o paciente ?
 
Quando comecei a trabalhar, o paciente muitas vezes vinha praticamente arrastado por algum parente ou constrangido. Havia uma resistência bem maior. Hoje o homem mesmo de formação e educação simples  evoluiu.
Há alguns que não falam nem o nome “próstata” e  chegam  afirmando que necessitam  fazer  “aquele exame”.  Ou chegam  trazidos pela esposa ou alguém da família.
E no consultório tento sempre desmistificar.Não é o exame de toque que define a consulta. A avaliação deve ocorrer de forma periódica e mais ampla.  Converso e peço os exames gerais e normalmente não faço o exame de toque no primeiro momento até mesmo para que o paciente se sinta seguro. Caso no retorno recuse-se, não insisto mas reforço que deve retornar periodicamente para um comparativo de evolução do PSA ao longo do tempo. Reforçando, o principal é a avaliação com o Especialista em uma visão mais ampla.Uma avaliação normal seja pelo PSA ou pelo toque da próstata ou por ambos retrata tão somente a saúde neste determinado momento. No futuro periodicamente reavaliado.
 
7. Falamos sobre a prevenção. Mas quando a doença é diagnosticada? Qual o procedimento?
 
Caso o PSA tenha alguma alteração suspeita e / ou o toque prostático alterado será indicada uma biopsia de próstata guiada por Ultrassonografia Trans-Retal e sob anestesia venosa. Caso a biópsia da próstata venha positiva, provavelmente o paciente deverá ser  acompanhado e tratado adequadamente e com critérios para indicar a melhor para cada paciente.O tratamento  pode ser curativo ou paliativo (para controlar a doença – em situações de impossibilidade da cura).
 
 
Um exemplo, se for um paciente com boa saúde, expectativa de vida e uma doença localizada, ele vai fazer um tratamento curativo.  Nestes casos,  existe uma chance de cura que chega a ser superior a 90%  e o tratamento é através de Cirurgia Radical da Próstata (Prostatovesiculectomia Radical) ou através de Radioterapia Conformacional ou por IMRT.Geralmente o câncer de próstata tem uma evolução lenta execetuando-se casos mais agressivos e se faço os exames periódicos, a chance de diagnosticar a doença no início será  grande e dessa forma tratar e buscar a cura.
 
8. Se o homem precisar retirar a próstata, o que muda na vida dele?
 
O principal sempre é ter em mente livrar-se de uma doença que pode ser maligna e trazer muito sofrimento a família e ao doente. Mas o tratamento pode ser árduo  com alguns casos de incontinência urinaria ( na grande maioria dos casos temporária e reversível em 95%) ou comprometimento mais comum do rendimento sexual que se não recuperável com o tempo pode ser eficazmente tratado com medicações ou próteses.Por outro lado, muito tem evoluído em relação ao Câncer da Próstata e casos de comprovada pouca agressividade podem ser acompanhados por uma metodologia chamada de “Vigilância Ativa. Hoje tendemos, ao contrario do passado, tratar casos de maior agressividade e acompanhar os menos agressivos.
 
 
 
9. A Saúde Pública e o acesso ao diagnóstico compromete o combate ao câncer?
 
Muitas pessoas humildes procuram o consultório do Urologista sabendo que devem realizar os exames e o fazem com recursos e esforço próprio devido a dificuldades encontradas na rede publica. Até ai tudo bem; o problema maior é quando do diagnostico o que fazer para o tratamento adequado ? Como conseguir este tratamento dignamente ?Referindo-se a questão da  Saúde Pública que temos atualmente no Brasil é um desafio ingrato.
Infelizmente 30% dos casos de Câncer de próstata na rede pública  são diagnosticados infelizmente  em fase tardia e avançada. Esse percentual de homens  não tem acesso à saúde publica ou privada e, quando recebem o resultado já apresentam a doença em estado avançado.
 
Para termos uma idéia, a  fila de espera por cirurgias de Próstata no nosso  Estado, chega a superar 1 ano. Campanhas como o Outubro Rosa e o Novembro Azul são mundiais e realmente funcionam. Mas no Brasil, precisamos atingir um patamar de eficiência institucional e que garanta as necessidades da população brasileira.O que adianta ter a campanha para a realização dos exames e diagnóstico  se não temos onde tratar  dignamente o paciente diagnosticado ?
 
Realmente precisaremos avançar muito!
 

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